ENTREVISTA: Trabalho premiado pelo Senac trouxe inovações nos Protocolos de segurança

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O Talento Profissional é uma premiação do Senac em Santa Catarina com o objetivo de estimular e reconhecer os alunos que, durante a realização de seus cursos, desenvolveram projetos para atender soluções com criatividade. Na edição de 2016, a 8ª edição do Prêmio contou com 73 projetos inscritos, sendo que destes, 36 se classificaram para etapa estadual. Ao todo participaram 24 unidades do Senac em Santa Catarina. Na categoria Técnico, o primeiro e o terceiro lugar foram para equipes formadas por alunos dos cursos técnicos de Enfermagem, em Florianópolis e São Miguel do Oeste, respectivamente.

Apresentamos no mês passado os vencedores do primeiro lugar, e este mês trazemos uma entrevista sobre o projeto que obteve o terceiro lugar, da Faculdade Senac em São Miguel do Oeste, com o projeto “Implantação do Protocolo de Segurança do Paciente: o papel dos alunos do Técnico de Enfermagem”.  A equipe de estudantes formada por Juliana Carla Silva Sbardelotto Ribeiro, Juleide Disner e Sandro Luis Gromoski, representada aqui pela Juliana, foi orientada nesta empreitada pela professora Carolina Fajardo Valente Pagliarin Brüggemann. 

Coren/SC – Como foi para vocês a experiência de estar dentro de um hospital e capacitar os profissionais sobre os protocolos de segurança? Como se sentiram?

Juliana – No início, estávamos inseguros. Nós, simples estudantes, “ensinando” profissionais de longa data. Não sabíamos como seria o recebimento dessas informações, se haveria resistência, pois, nos consideravam jovens e inexperientes. Apesar do tempo de carreira dos profissionais, sabemos que tudo se torna automático nesta profissão. Com o passar do tempo, vivenciamos tantas desgraças e sofrimentos que acabamos deixando sentimentos e humanidade esquecidos em nossa rotina. Esta experiência é algo difícil de descrever e os sentimentos se misturam. A recepção dos profissionais foi ótima, foram simpáticos e pacientes. Fomos ouvidos por todas as equipes de todos os turnos. A sensação de plantar uma boa semente é algo ímpar na vida do profissional da área da saúde. Pequenas mudanças em nossas rotinas podem significar grandes ganhos para os pacientes hospitalizados.

Coren/SC – Dos protocolos básicos de segurança do paciente citados pela equipe no projeto, houve algum que perceberam ser mais falho na instituição em que realizaram a pesquisa? Como realizaram o diagnóstico da aplicação dos protocolos?

Como protocolo mais falho considero o de Identificação do Paciente, o qual engloba o uso de medicamentos como um aliado ao fator de risco elevado. Nomes de pacientes e de medicamentos semelhantes, desatenção da equipe de Enfermagem, alergias medicamentosas não identificadas previamente e outros inúmeros erros, agravam a recuperação dos pacientes. Seguido do protocolo de Lesão por Pressão. Este segundo não sendo também de total culpa da equipe, pois há fatores que não podem ser mudados no quadro do paciente. Muitas vezes eles são muito magros, apresentam muitos edemas pelo corpo, possuem pulmões debilitados, sendo que neste caso um dos pulmões ventila melhor do que o outro sendo impossível a mudança de decúbito. Enfim, inúmeros são os contratempos e imprevistos.

3 – Como se deu a divisão de tarefas entre os componentes da equipe?

Posso afirmar que não houve divisão nos processos de elaboração e execução  dos protocolos. O único momento em que atuamos separados foi na hora de buscar o referencial teórico. Por se tratar de assuntos extensos, havia muita pesquisa a se fazer. Aí sim, dividimos os assuntos por afinidade de cada um. Costumo ser detalhista em relação ao trabalho em equipe. Digo que todos devem saber tudo. Se ocorrer imprevistos todos devem estar preparados. Elaboramos slides, materiais em PVC, divulgação em impressos de papel, textos e ensaios das apresentações. No decorrer desses processos, todos estavam presentes e opinando ativamente. Iniciamos a capacitação por nós mesmos, antes de ir a campo. Somos o melhor feedback para nosso próprio crescimento. Devemos estar preparados para perguntas e argumentos diferentes dos que estamos costumados a ouvir e solucionar.

4 – Vocês conseguiram atingir os resultados esperados descritos no projeto?

Conseguimos semear a conscientização de que a maioria das evoluções no quadro clínico dos pacientes, independente de serem positivas ou negativas, são de responsabilidade dos profissionais que estão prestando seus cuidados. Analisando por este ponto de vista, creio que atingimos nossos objetivos. Distribuímos materiais visuais dos seis projetos, os quais para nossa alegria estão sempre expostos e ao alcance dos profissionais como um lembrete para o cuidado diário dos pacientes e da própria equipe. Os enfermeiros chefes assumiram o papel fundamental de serem fiscais das práticas previstas com a implantação dos protocolos. Desta forma, comprometeram-se em disseminar estas práticas e cuidados. Não consideramos que os resultados ocorreram somente na semana de treinamento, vejo como um ciclo, algo que não tem fim. Uma corrente disseminadora dos cuidados previstos, pois os profissionais na sua grande maioria possuem dois ou mais empregos, desta forma aplicam o aprendizado em outras instituições de saúde causando a conscientização em outros profissionais. Assim, os objetivos propostos serão alcançados a curto, médio e longo prazo.

5 – E sobre o futuro, pretendem dar continuidade ao projeto e implantar a capacitação em outras instituições? Se sim, onde e por quê?

Considero o projeto como um filho que acaba de nascer, devendo ser cuidado e incentivado para no futuro retribuir os cuidados com bons frutos, conquistas e alegrias. Em nosso município há outros hospitais, mas um em especial é alvo de nosso desejo de conscientizar os profissionais que ali trabalham. Nesse determinado hospital, acompanhamos a rotina da equipe de Enfermagem. Por mais que os supervisores e os conselhos fiscalizem, ainda ocorrem muitos erros. Parte desses erros é atribuída não à falta de treinamentos, mas, sim à falta de conscientização dos profissionais. Seria uma grande satisfação entrarmos neste ambiente, acompanhar os profissionais, anular a resistência deles em receber as novidades e disseminar as práticas previstas em nossos protocolos. Claro que a implantação é algo que não depende somente de boa vontade, há toda uma estrutura financeira e de pessoas dispostas a contribuir com o seu melhor. Pois, o cuidado que prestamos hoje para um estranho, pode ser o mesmo realizado para nossos familiares em outro momento. Se vai ser bom ou não isto irá depender do quanto nós nos preocupamos com o capital humano da sociedade. Muito se fala em humanização, mas pouco se pratica.