ENTREVISTA – Enfermeira Maria Elizabeth Kleba é exemplo na educação e promoção da saúde

 

Enfermeira graduada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 1981, Maria Elizabeth Kleba fez o Mestrado na mesma instituição e depois validou o Doutorado realizado em Bremen, na Alemanha. Em agosto de 1981, começou carreira como enfermeira na Cooperalfa, em um projeto de Medicina comunitária desenvolvido em Chapecó e na Região Oeste de Santa Catarina. Trabalhou com comunidades indígenas, com crianças e idosos, foi enfermeira de unidade básica de saúde e professora de curso técnico de Enfermagem. Em 1987, ingressou na Fundeste (atual Unochapecó), como professoPremio Anna Nery_2ra do Curso de Pedagogia, tendo se dedicado ao Mestrado nessa época. Retornou à Unochapecó em 1992, quando assumiu a chefia do Departamento de Ciências Biológicas e da Saúde. No ano de 2000, após retornar do doutorado, assumiu a Direção do Centro de Ciências da Saúde e a Coordenação do Curso de Enfermagem, ambos criados naquele ano. Atualmente, é professora do Curso de Enfermagem e dos Programas de Pós-Graduação em Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais e em Ciências da Saúde. Em 2017 foi indicada pelo Coren/SC para ganhar o Prêmio Anna Nery, uma homenagem anual do Sistema Cofen/Corens.

 

 

– Qual sua principal área de atuação?

Trabalho prioritariamente com a saúde coletiva, tendo ênfase em gestão de políticas públicas e participação social, bem como a área da educação, com ênfase no ensino em saúde e em Enfermagem. O tema da participação social nos processos de decisão para as políticas públicas me interessa desde minha graduação. Na época, participei de vários movimentos estudantis, bem como de um Núcleo do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), em Florianópolis, experiências que ampliaram minha visão e me instigaram a me engajar nas lutas sociais e políticas. Em Chapecó e região, encontrei um terreno fértil para ampliar meu engajamento e minha compreensão sobre a dimensão política da saúde e da Enfermagem: por um lado, movimentos sociais ligados as pastorais, mulheres camponesas e sindicatos engajados; por outro, meu marido como militante em partidos políticos.

 

 

– Conte da sua experiência na formulação de políticas públicas.

Durante a década de 1980, criamos o Núcleo da Associação Brasileira de Enfermagem em Chapecó e acompanhamos os movimentos da 8ª Conferência Nacional da Saúde, trazendo ao município, em 1987, o Fórum Estadual de Enfermagem, com o título: Enfermagem e a constituinte. Minha tese de Doutorado teve como foco a participação da pastoral da saúde na construção do Sistema Único de Saúde na Região do Oeste, desvelando o engajamento e as conquistas de agentes de saúde vinculados a pastoral. Desde 2000, coordeno o Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas e Participação Social, por meio do qual são desenvolvidas atividades de pesquisa e extensão voltadas ao fortalecimento dos conselhos gestores de políticas públicas. Fui conselheira em diversas gestões do Conselho Municipal de Saúde de Chapecó, atuando ainda na Comissão dos Conselhos Locais de Saúde, com os quais tenho desenvolvido atividades de ensino (trabalhos de conclusão de curso), pesquisa e extensão.

 

– Como a Enfermagem pode ser mais valorizada?

Em meu ponto de vista, precisamos aliar competência técnica, engajamento político, mas também valores pautados em princípios éticos, humanísticos e estéticos. Entendo que a visão de Florence Nightingale ainda é muito atual, quando se referiu a Enfermagem como “ciência e a arte do cuidado”. Além disso, creio que o uso de estratégias mais dialógicas e mais estratégicas de comunicação pode ser muito útil: comunicação entre pares, com outros profissionais, com outros setores, com gestores, com usuários, e também por meio da mídia. Precisamos cultivar confiança e respeito entre nós mesmas, mas também dar mais visibilidade e, consequentemente, credibilidade ao que temos construído e conquistado em nossa história. Escutei de sociólogos elogios às nossas teoristas de Enfermagem, de gestores reconhecimento de nosso processo de Enfermagem, não apenas como orientadores de nossa prática, mas também como exemplo para outras categorias. Ambos são campos de conhecimento que podem dar mais sustentação e credibilidade no que nossa categoria tem de específico e que contribui à qualificação do campo da saúde em sua totalidade.

 

– Quais as conquistas que podem ser comemoradas?

Termos uma ABEn atuante, inclusive em instâncias deliberativas, a exemplo do Conselho Nacional da Saúde. Sermos incluídas na Estratégia Saúde da Família como parte da equipe essencial da Atenção Básica. Termos representação em órgãos como o CNPq e a Capes. Vale a pena lembrar também da profissionalização das atendentes de Enfermagem e, atualmente, avanços na priorização da formação de técnicos de Enfermagem, ao invés de auxiliares. Essa luta que deve permanecer ativa é contra a precarização e em favor da valorização da categoria. Para mim, o SUS ainda é a grande conquista no Brasil. Longe de estar concluída, mas não podemos nos esquecer de reconhecer os ganhos que essa conquista proporcionou, tanto para a saúde dos brasileiros, quanto para as condições de trabalho e o reconhecimento dos profissionais da Enfermagem.

 

– Quais os desafios que os profissionais possuem quando saem da universidade?

São muitos os desafios, como sempre o foram. Mesmo que diferentes, de acordo com seu tempo. Acredito que possam ser destacados: a compreensão de que ninguém “ganha” abertura, confiança, companheirismo, respeito e valorização no trabalho; esses são sempre conquistas, a médio e longo prazos. Por isso a importância dos processos de educação permanente, da participação em organizações sociais, especialmente nas entidades e órgãos da categoria, mas também de valores como a humildade e a persistência nos espaços em que atuamos. Acredito que são esses valores que fortalecem pessoas e grupos, permitindo sua valorização, conferindo maior confiança e segurança tanto aos profissionais de Enfermagem em seu processo de tomada de decisão, quanto aos usuários e demais trabalhadores envolvidos.