O enfermeiro Vinícius Paim Brasil foi indicado pelo Coren/SC para receber o Prêmio Anna Nery no dia 13 de novembro, durante a realização do 22º Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem (CBCEnf). Esta é a maior honraria concedida pelo Cofen à Enfermagem brasileira desde 2012. Com trajetórias distintas, os homenageados têm em comum o compromisso com a Enfermagem e o senso de humanização e cuidado. No caso de Vinícius, sua indicação deve-se ao trabalho realizado no desenvolvimento dos Protocolos de Enfermagem para a Atenção Primária e posterior capacitação dos profissionais nos municípios.
Com Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria (2002), Vinícius tem especialização em Saúde da Família/Modalidade Residência pela Universidade Federal de Santa Catarina (2006) e Mestrado Profissional em Saúde Publica/Epidemiologia pelo Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (2014). Atualmente é enfermeiro de família – Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis (2007), preceptor do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e preceptor do Programa de Residência em Enfermagem da Escola de Saúde Pública da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis (ESP/SMS-Florianópolis/SC).
Confira a entrevista:
Pela sua trajetória, a Atenção Primária é seu foco. Quais os desafios atuais e como superá-los?
Realmente esse foi o meu foco desde a graduação (Atenção Primária) e pude vivenciar ao longo dos anos o crescimento da cobertura da Estratégia de Saúde da Família (ESF) tanto no Estado de Santa Catarina quanto no Brasil, consagrando a mesma como porta de entrada do Sistema de Saúde.
Esse modelo comprovou a sua efetividade por inúmeros indicadores, desde a queda da mortalidade infantil, cobertura ampla da assistência ao pré-natal ou mesmo na redução das hospitalizações por condições sensíveis a Atenção Primária. Infelizmente, hoje o grande desafio é não retroceder nestes avanços alcançados ao longo dos anos, principalmente no que diz respeito ao financiamento, a cobertura das equipes e a manutenção do acesso ampliado e facilitado da população aos serviços de saúde através da ESF.
Neste sentido, as estratégias de superação passam pela integração da Atenção Primária com a Vigilância em Saúde, com foco principal na atenção às doenças negligenciadas, pela participação da sociedade na efetivação e cobrança aos governantes dos investimentos financeiros necessários no setor saúde, e na melhoria na gestão e planejamento estratégico. Questões embora “batidas”, mas que na prática são os maiores entraves em todo o setor saúde, seja na atenção primária, na média e alta complexidade.
– Entre suas atividades, destacamos a implantação dos Protocolos de Enfermagem nos municípios. Como foi e como está sendo esta experiência?
Extremamente positiva. O Coren/SC neste sentido tornou-se vanguarda no país, sendo inclusive referência para outros estados na elaboração e construção de metodologias de aprendizado para os protocolos de enfermagem. O convenio realizado entre o município de Florianópolis, através da Secretaria Municipal de Saúde e tendo a Comissão de Enfermagem do município como protagonista, promoveu algo que há muito tempo se buscava: uma maior autonomia e resolutividade do profissional de enfermagem. Fato que passados mais de 2 anos do referido convenio, começamos a colher os frutos dos outros municípios, os quais apresentaram, a exemplo de Florianópolis, impactos positivos em todos os indicadores de saúde e serviram para colocar a nossa profissão em evidencia na melhoria do acesso e qualidade em saúde.
– Como a atuação da Enfermagem pode melhorar o atendimento universal do SUS?
Como principal força de trabalho no SUS, a Enfermagem possui protagonismo e relevância, não só no Brasil como em todo o mundo, fato lembrado inclusive pela OMS através do movimento Nursing Now o qual estabelece o ano de 2020 como “Ano da Enfermagem”.
Neste sentido, e tendo como um dos objetivos desta iniciativa, acredito que a atuação da enfermagem de maneira autônoma e valorizada, e aqui falo da iniciativa da Enfermagem de Práticas Avançadas pode ser uma das principais estratégias de fortalecimento tanto do acesso quanto da qualidade da assistência em saúde.
Vale lembrar que essa estratégia deve ter sempre por premissa a segurança do profissional e principalmente a segurança do paciente, as quais se conquistam por treinamento e aperfeiçoamento constante de todos os profissionais da enfermagem, sendo um dos aspectos estabelecidos pela OPAS e OMS na expansão desta estratégia e que, se forem seguidas, com certeza qualificarão ainda mais a enfermagem brasileira.
– Como você avalia o trabalho dos gestores em relação à Atenção Primária?
Deve ser melhorado, muito embora a crescente qualificação e ascensão de técnicos nos cargos de gestão e gerência, fazem-nos ter esperança na superação de um dos entraves da saúde publica nacional. Acredito que uma fortaleza para a melhoria da gestão passe também pela integração das universidades com os gestores, as quais podem contribuir em muito em tecnologias e ferramentas que auxiliem na qualificação da gestão como um todo.
– Por fim, qual o sentimento de estar recebendo esta honraria nacional que é dada aos exemplos da Enfermagem em todo o país?
É a maior honra da minha vida profissional e levo esta indicação com muito orgulho por representar toda enfermagem catarinense e, principalmente por representar o corpo de Enfermagem da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis, sendo que todos meus colegas desta instituição são tão merecedores desta honraria quanto eu.