Matérias no mundo inteiro destacaram na semana passada os princípios da pioneira da Enfermagem no mundo, Florence Nightingale, que estão mais atuais do que nunca. E neste Dia Mundial da Saúde, 7 de abril, o Coren/SC destaca essa importante trajetória e como ela merece ser lembrada sempre.
Florence foi lembrada pelo Reino Unido que anunciou a abertura de cinco hospitais temporários para as vítimas do Covid-19 e que receberam o nome de Hospitais Nightingale, em homenagem a esta mulher que nasceu há 200 anos e implantou práticas de higiene que ajudaram a transformar os conceitos de saúde pública. Uma de suas principais preocupações na época é hoje a mensagem que o mundo difunde, que é de lavar as mãos com água e sabão.
Sabemos que este ano é dedicado ao seu bicentenário. Nascida em 12 de maio de 1820 em Florença, na Itália, ela receberia eventos na Inglaterra, onde foi criada, e em todo o mundo, inclusive no Brasil quando comemora-se o dia 12 como Dia da(o) Enfermeira(o).
Ela passou anos entre doentes e equipes médicas trabalhando em ambientes tomados por epidemias como cólera e tifo. Viu soldados na Guerra da Crimeia (1853-1856) morrerem não por causa dos ferimentos, mas por conta das infecções. Numa sociedade onde só a voz dos homens era ouvida, ela mergulhou em pesquisas científicas e investiu na educação, influenciando políticas sanitárias e salvando vidas. Suas soluções foram projetadas para um mundo que ainda não entendia como germes se espalhavam e, portanto, parecem simples para os padrões atuais, como explica o pesquisador Richard Bates, da Universidade de Nottingham, que trabalha num projeto sobre as experiências da líder vitoriana (florencenightingale.org). Ela defendia a importância da lavagem das mãos, da limpeza de hospitais e de uma enfermagem treinada. Mas também pregava atenção à higiene das casas como fator essencial na prevenção do contágio. Embora básicos, são princípios novamente enfatizados com a disseminação da Covid-19, que evidenciou uma série de situações de fragilidade global.
No livro “Notas sobre enfermagem” (1860), ela falou sobre a necessidade de manter janelas abertas para ventilação do ar, tapetes esfregados e ralos limpos. Mas Florence deixou outras lições:
— Ela valorizou a importância de ambientes benéficos para a saúde mental e física. Acreditava que pacientes tinham menos chances de melhorar se ficassem deprimidos ou desesperados. Nos hospitais do Exército, incentivou soldados a ler, escrever cartas e conversar — esclarece Bates.
Percorrendo enfermarias, Florence ficou conhecida como a “Dama da Lamparina”. Criou diagramas para a visualização de dados sobre contaminação, método revolucionário para aqueles tempos. Acabou contraindo uma infecção, a brucelose, e se isolou em casa. Não se pode comparar seu distanciamento social, no entanto, à quarentena dos tempos de coronavírus. Como membro de uma família aristocrática, ela vivia cercada de empregados:
— O mais relevante para os dias de hoje é que ela transformou sua reclusão em vantagem. Tinha uma desculpa para não participar da socialização convencional e isso permitiu que recusasse visitas para se dedicar ao trabalho. Seu período de isolamento mais intenso (1857-1867) também foi o mais produtivo de sua vida — relata Bates, citando a criação da Escola de Treinamento para Enfermeiras Nightingale, em Londres.
Hoje, ela é nome de museu (em Londres), de uma fundação e de hospitais — inclusive o de campanha inaugurado ontem pelo príncipe Charles, em Londres — mas não teve uma vida fácil. A família não aceitava seu trabalho. Queria que ela se casasse. Florence só conseguiu emprego aos 33 anos, enfrentando a resistência de médicos e militares. Após a Guerra da Crimeia, escreveu relatórios que se tornaram a base da legislação britânica sobre saúde. Como mulher, não podia ter cargo oficial, e fez tudo isso sem receber qualquer crédito.
Com informações do Jornal O Globo (4 de abril)