Enfermeira Larissa Alves conta como é a rotina no combate à Covid-19 em Criciúma

Vestir os Equipamentos de Proteção Individual (EPI), deixar os familiares e se dedicar durante horas ao combate do coronavírus. Esta tem sido a rotina de diversos profissionais de saúde que atuam durante a pandemia da Covid-19 no Brasil, e não é diferente em Criciúma. O Portal Engeplus inicia nesta quarta-feira, dia 15, uma série de reportagens contando a história de trabalhadores que estão na linha de frente do novo vírus em Criciúma.

Por trás de uma máscara, luvas, capacetes, protetor auricular e de um macacão branco existem profissionais da saúde que abdicaram de suas vidas para ajudar outras. É o caso de Larissa Alves, de 33 anos. Natural de Cachoeira do Sul (RS), ela atua na saúde pública há 12 anos. Formada em enfermagem pela Universidade Paulista (UNIP) de Brasília, ela trabalha em Criciúma há cinco anos.

Uma profissão que mudou a sua vida

Larissa é a filha mais nova do casal Braudilei Alves e Edina Regina Figueredo Alves. Ainda adolescente queria prestar vestibular para odontologia, porém seu pai era militar do Exército Brasileiro e acabou se mudando para Brasília para atuar no governo federal em 2004. Com a mudança, Larissa acabou optando por fazer enfermagem, o único curso de saúde disponível na universidade.

Ela prestou vestibular e ainda nas primeiras semanas de aula acabou se apaixonando pelo curso e enxergou na profissão uma missão de vida. “Minha mãe teve câncer de tireóide, meu irmão é autista e meu pai teve H1N1 enquanto estava na Alemanha trabalhando. Então, sempre me dediquei muito aos estudos e me encontrei na saúde visando ajudar meus familiares e também a sociedade como um todo”, conta.

Muito mais do que uma enfermeira

Por ser filha de militar, Larissa relata que sempre cumpriu muitas exigências de seu pai e precisou criar muita disciplina e liderança para lidar com os desafios propostos durante a vida. “Fomos criados em um regime militar. Sempre tive muita tensão em fazer as coisas corretas e agir de maneira certa. Cresci tendo que lidar com situações de crises e isso fez com que eu crescesse profissionalmente”, analisa.

A família de Larissa é natural de Araranguá, porém, pelo pai ser militar, ela morou em diversas cidades do país. “Conheci diversas rotinas, culturas e aprendi muito ao longo da carreira do meu pai. Já morei no meio do nada em que não tínhamos nem vizinhos, morei no Pantanal por dois anos, por exemplo. Dormia no meio do mato e tudo isso me fez crescer para lidar com os problemas atuais de pandemia”, explica. 

A enfermagem e o amor pela profissão 

Ainda quando jovem, Larissa não sabia que todos os desafios propostos pelo pai militar lhe dariam força, determinação e criariam nela o espírito de liderança. Ainda na faculdade, começou a se mostrar uma gestora e líder de tudo que se envolvia.

Seu primeiro emprego na área foi em uma loja de estética e, meses depois, já virou gestora do empreendimento. “O instinto de liderança me ajudou muito para me tornar a profissional que sou hoje. Gosto de atuar na área da saúde, mas sou apaixonada por gerir equipes, por atuar na gestão e sou grata por ter conseguido tudo isso”, afirma.

Larissa chegou em Criciúma em 2009, deixando Brasília sozinha e vindo para o Sul do país em busca de novas oportunidades. Ela ainda se especializou em Gestão Saúde da Família no Rio de Janeiro e fez mestrado em Ciências da Saúde na Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc).

A enfermeira trabalhou em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) em Içara, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Catarina e, atualmente, está na UBS do bairro Pinheirinho, em Criciúma.

“Comecei a trabalhar em Criciúma no Hospital Santa Catarina e depois fui para Içara e por lá trabalhei em algumas Unidades da cidade e depois passei no concurso e vim novamente para Criciúma. Atuei nos bairros Vila Zuleima e Quarta Linha até chegar na UBS do Pinheirinho, onde estava antes da pandemia. Me encontrei muito na localidade e até já recebi um certificado em Criciúma por realizar mais atendimentos domiciliares pelo profissional enfermeiro”, lembra.

Afinal, como Larissa chegou ao Centro de Triagem? 

Larissa atuou até segunda-feira, dia 13, no Centro de Triagem (CT) da área central, ao lado do Hospital São José. Ontem ela iniciou no CT do bairro Boa Vista. A intenção da mudança é que ela consiga gerir a equipe.

“No bairro Pinheirinho sou Gerente da Unidade. Fui convidada pelo enfermeiro Vanderson para atuar no Centro de Triagem. Tudo foi muito rápido, pois ele me ligou no dia 18 de março às 22 horas para trabalhar no CT que iria inaugurar no dia seguinte. Aceitei na hora pelo desafio e porque gosto disso. Trabalho melhor sob pressão e essa é minha vida e rotina”.

A enfermeira relata que no dia 19 de março chegou ao Centro de Triagem da área central e começou a gerir a equipe, treinar os funcionários e movimentar o local para que se tornasse referência em atendimento a casos suspeitos e confirmados de coronavírus no Sul de Santa Catarina.

“Sou a louca das planilhas e comecei a anotar tudo, marcar o que precisava, a conversar com as pessoas e a pedir muito ao prefeito Clésio Salvaro, que nos ajudou com tudo, deu tudo que precisávamos para trabalhar e, por isso, conseguirmos fazer até aqui um bom trabalho”, analisa.

Larissa afirma que no primeiro dia de Centro de Triagem foram realizados 200 atendimentos. “Obviamente, hoje não estamos mais recebendo 200 pessoas, mas se precisar nós conseguimos atender. Temos profissionais capacitados e que estão se doando de corpo e alma para a saúde criciumense”, comenta.

O sentimento de Larissa pelo Sistema Único de Saúde

A enfermeira sempre atuou no Sul de Santa Catarina pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e garante que é apaixonada pelo modelo. “Garanto para qualquer paciente que nesta época de pandemia do coronavírus muitas instituições particulares de saúde não possuem o que o SUS possui. Os dois Centros de Triagem estão muito bem equipados para atender à população e as pessoas precisam saber disso”, relata.

“Precisamos valorizar mais o SUS e as pessoas que trabalham com a saúde pública no país. Estamos doando nossas vidas a população e com certeza vamos sair dessa juntos”. 
Larissa Alves
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Larissa é casada com Eduardo Waterkemper Morona e o casal possui um filho de 6 anos. Ela deixou os familiares por semanas para conseguir atuar diretamente no combate ao coronavírus. “Nunca fiquei tanto tempo sem ver meu filho. Estava morando no hotel alugado pela Prefeitura de Criciúma. Cheguei a trabalhar 24 horas no Centro de Triagem. Fiz o teste rápido e testei negativo e, por isso, voltei para casa para conseguir ver meu filho e meu marido. Tenho uma empresa particular e também abdiquei para conseguir me dedicar exclusivamente no combate ao coronavírus”, conta.

Tempo livre? Serve para estudo 

Engana-se quem pensa que Larissa chega em casa após horas no Centro de Triagem e descansa. Acostumada a ler muito, ela está se dedicando a estudos, pesquisas em busca de informações sobre o coronavírus.

“Não tenho como chegar em casa e largar tudo. Minha vida gira em torno deste novo vírus. Quero estudar, aprender e poder ensinar para os outros profissionais. Tenho uma nova equipe agora no Centro de Triagem no Boa Vista e preciso ajudá-los. Para isso, tenho que estudar e adquirir novos conhecimentos”, pontua.

E quando tudo passar? 

Larissa acredita que a pandemia chegará ao fim e já planeja seus meses após o coronavírus. “Faço aniversário em setembro e espero que tudo isso passe até lá para poder aproveitar meu aniversário com meus familiares e meu filho, que estou tão distante. Acredito, sim, que tudo passará. Peço que as pessoas que puderem continuem em isolamento social e quem não pode que tome os cuidados necessários para que essa doença esteja longe de nossa região”.

“É difícil fazermos uma previsão sobre essa doença. Temos que pedir para as pessoas se cuidarem o máximo possível para conseguirmos evitar mais mortes e pessoas infectadas”, finaliza.

 

Fonte: Portal Engeplus – Por Rafaela Custódio