Enfermeiro cria aplicativo para auxiliar deficientes auditivos a pedir socorro

O professor universitário Éder Júlio Rocha de Almeida não se esquece de um dia quando ainda trabalhava em atendimentos de urgência e emergência e testemunhou a morte de um paciente. Era um idoso, cujo filho, deficiente auditivo, não conseguiu chamar pelo socorro a tempo de salvar o pai. Por não ouvir, teve dificuldades em pedir ajuda por telefone. E também não foi compreendido por vizinhos.

Quatro anos depois, o professor, que tem 31 anos e também é enfermeiro, relembrou a situação ao definir o tema para sua dissertação de mestrado em tecnologia aplicada em saúde. Artigo foi publicado em revista científica internacional e está prestes a sair do papel. Para virar realidade: o aplicativo “Socorro com as mãos”, para que pessoas surdas e mudas possam solicitar ajuda.

“Alguns cliques podem salvar uma vida”. É a mensagem que se vê logo que o aplicativo é aberto. E é, justamente esta, a intenção do idealizador.

Opções para escolha do usuário, na hora de chamar por socorro — Foto: Arquivo pessoal

“Aquilo (a morte do paciente) marcou a minha vida. Se a pessoa sofre uma parada cardiorrespiratória, um AVC, não consegue acionar serviço de urgência, que é discado, só por telefone, para acionar ambulância. Seja SUS, Samu e operadoras de plano de saúde. O aplicativo vem preencher esta lacuna”, salientou o professor Éder.

Éder de Almeida atuo como professor universitário do curso de medicina da Faculdade Atenas de Sete Lagoas, e de enfermagem na Unincor Betim. É, também, professor de pós-graduação da Santa Casa BH. Ele contou que o aplicativo é autoexplicativo e pode ser usado por pessoas de todas as idades. Inclusive por quem não sabe ler, pois as há ícones indicando ocorrências, para que pessoas possam escolher e receberem (ou solicitarem, no caso de um acompanhante), assim, um primeiro atendimento direcionado.

Empresas interessadas – A professora Rosângela Hyckson é coordenadora do mestrado de “Tecnologias Aplicadas a Saúde” da Faculdade Promove de Tecnologia e foi responsável por orientar o enfermeiro Éder Júlio. Ela está conversando com empresas interessadas em investir no aplicativo e acredita que deve ele estar disponível em meados de julho. A ideia é que ele possa ser baixado em todas as plataformas: smartphones, tablets, etc.

“Achei a ideia excelente. Muitas pessoas passam mal e morrem por falta de condições de chamar por ajuda. Mostramos para pessoas ligadas a órgãos ou unidades de saúde para ver a viabilidade e o pessoal gostou muito. É uma plataforma muito simples”, comentou.

Muito simples mesmo. Depois de baixar o “Socorro com as mãos” no celular, por exemplo, o usuário vai precisar preencher um cadastro, com dados pessoais. Se o atendimento for pelo SUS, ela vai ser direcionada para a página relativa. Se for por convênio particular, a operadora deverá ser escolhida.

Assim que concordar com os termos, a Sociedade Brasileira de Surdos vai gerar um código para validar – atualmente, o país tem 28 milhões de pessoas com deficiência auditiva, sendo cinco mil surdos totais somente em Belo Horizonte. O projeto teve a colaboração de Rackel Raniere Durães Guerra, acadêmica de Engenharia de Produção e Arthur Guimarães, acadêmico de enfermagem.

“Só vai poder usar o aplicativo quem for surdo e mudo, para diminuir risco de trote. Aplicativo também vai ter um módulo de reconhecimento facial”, ressaltou.

O usuário vai precisar, também, fazer um cadastro de doenças pré-existentes. Devidamente habilitado, sempre que utilizar o aplicativo bastará clicar na opção correspondente ao socorro necessitado: parada cardíaca, arma de fogo, acidente automobilístico, afogamento, AVC, queda, dificuldade respiratória, atropelamento, animal peçonhento e outros.

“Quando ele clicar, vai aparecer um resumo descrevendo a opção escolhida e, logo em seguida, o sistema irá identificar o usuário, que vai escolher para onde a ambulância deve ir. O GPS irá indicar o local para a ambulância”, explicou.

Professora Rosângela Hyckson é coordenadora do mestrado de “Tecnologias Aplicadas a Saúde” da Faculdade Promove de Tecnologia — Foto: Arquivo pessoal

Rede do bem – De acordo com a professora Rosângela Hyckson, o aplicativo irá emitir sinal visual, confirmando a chamada. E ele será disponibilizado sem custo algum para o interessado. A ideia inicial era que ele fosse oferecido diretamente em pronto-atendimentos nas 23 cidades onde a Faculdade Promove tem unidade, mas a pandemia os obrigou a mudar os planos.

A divulgação será digital, por meio de redes sociais, em vídeos curtos, que eles esperam que sejam compartilhados por amigos. Uma verdadeira rede de contatos do bem. E que poderá salvar muitas vidas.

Acesse a matéria para ver o funcionamento do aplicativo.

Fonte: G1