Palestra debate assistência de Enfermagem em territórios indígenas

Palestrantes debateram cenários de trabalho dos profissionais                        no atendimento aos povos indígenas

305 etnias, 274 línguas e 896.900 indivíduos, este é o panorama das populações indígenas no Brasil. Em um contexto intercultural e com uma população que habita diversos espaços, a assistência prestada aos povos originários precisa também ser diversificada e abrangente. Buscando ampliar o debate acerca, especialistas realizaram a palestra “Cenários de trabalho dos profissionais no atendimento aos povos indígenas: legislação versus prática de Enfermagem”, nesta quarta-feira (29), durante o terceiro dia de programação do 23º Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem (CBCENF).

Na abertura, o coordenador da Comissão Nacional de Enfermagem em Saúde Intercultural do Cofen (CONENFSI), Paulo Murilo, destacou a importância da discussão do tema. “Em um momento de constante retirada de direitos das populações indígenas, termos a oportunidade de debater a assistência de Enfermagem nos territórios originários é um momento singular. Destaco aqui a importância da atuação da CONENFSI, que busca mapear a realidade do atendimento em comunidades indígenas, propondo ações diretas de melhoria da assistência”, enfatizou.

Paulo Murilo ressaltou a importância da atuação da CONENFSI

Indianara Machado, enfermeira e pertencente ao povo Guarani Kaiowá, ressaltou que os povos originários habitam diversos espaços. No entanto, seja no contexto de território, em que habitam as aldeias, no contexto de retomada, em que habitam locais impróprios enquanto esperam a demarcação de suas terras, ou ainda no contexto urbano, as populações indígenas enfrentam dificuldades em receber atendimento adequado, seja por dificuldades de acesso e infraestrutura ou até mesmo pelo preconceito.

Encontramos diversos obstáculos na hora de prestar uma assistência qualificada nos territórios indígenas. “Não são raras as vezes em que é preciso adaptar macas, improvisar locais para prestação de atendimento. Ainda precisamos lidar com a falta de água, de saneamento básico, infraestrutura necessária”, afirmou.

A palestrante ainda apresentou mapa dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, unidades de responsabilidade federal que descentralizam a atenção à saúde indígena, criadas pela lei nº 9.836 de 1999, e defendeu a importância da formação de profissionais da saúde indígenas, bem como a abertura de espaços para que possam atuar. “É necessário que as faculdades fomentem o diálogo e a educação em interculturalidade. É na academia que esta noção de diversidade deve começar a ser trabalhada”, complementou.

   A enfermeira Indianara Machado destacou a importância da capacitação de estudantes para atuação em territórios indígenas

O enfermeiro e professor Altamir Farias também defendeu a necessidade de criação de espaços das universidades que possibilitem formação em saúde indígena, e trouxe o relato da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), onde trabalha. “É preciso que este ensino se torne uma realidade em todo o país, pois é somente com a capacitação que os profissionais terão embasamento adequado para atuarem de forma eficaz nestes territórios”, ressaltou.

CONENFSI – Através da decisão nº 062/2021, foi criada em abril a Comissão Nacional de Enfermagem em Saúde Intercultural do Cofen, com o objetivo de assessorar o plenário na elaboração de estudos e na apresentação de ações, propostas e pareceres relativos às comunidades tradicionais e outros grupos minoritários. A comissão busca conhecer a realidade do atendimento, com um olhar atento aos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, ciganos, LGBTQIA+ e imigrantes.

Em julho, a comissão esteve reunida para discutir propostas que garantam o mapeamento das ações de saúde em comunidades indígenas, buscando definir estratégias de regulamentação para uma assistência segura, com melhorias do cenário de trabalho dos profissionais de Enfermagem em todo o território brasileiro.

Nesta semana, elaborou uma pesquisa que visa identificar dificuldades técnicas, éticas e normativas da assistência de Enfermagem prestada pelos profissionais do país à população indígena. A coleta de dados será utilizada para a elaboração de uma minuta de resolução para normatizar a atenção de Enfermagem em saúde indígena.

Fonte: Ascom – Cofen