Humanização do Parto: assistência humanizada ao parto e nascimento busca devolver à mulher o seu protagonismo

O respeito à natureza e à vontade da gestante têm levado a uma crescente mobilização  em favor do parto humanizado. Este movimento envolve, diretamente, a Enfermeira obstetra, profissional de suma importância nesse processo

A maternidade é um momento único na vida da mulher. A experiência de dar a luz é, para muitas, o mais importante de sua existência e requer muito cuidado e respeito. Para que esta experiência seja vivenciada em sua plenitude, muito têm se falado no parto humanizado, a fim de se garantir, em primeiro lugar, o bem-estar da parturiente e do bebê.

Responsável Técnica de Enfermagem do Hospital Sofia Feldman, a Enfermeira Vera Cristina Augusta Marques Bonazzi destaca que a assistência humanizada e respeitosa ao parto e nascimento busca devolver à mulher o seu protagonismo. “Garantindo a ela uma escuta qualificada, reconhecendo as suas necessidades e favorecendo uma vivência prazerosa e segura”, reforça.

Assunto cada vez mais em pauta nos meios de comunicação e nas redes sociais, o parto humanizado, a cada dia, ganha mais adeptos. Membro da Comissão de Saúde da Mulher do Conselho Federal de Enfermagem e da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras – Seccional Minas Gerais (Abenfo-MG), Vera Bonazzi acredita que esta procura pelo assunto está diretamente relacionada à busca de informações pelas mulheres e famílias sobre o parto.

De acordo com a Enfermeira, um dos fatores para este aumento é o crescente número de cesáreas desnecessárias. “Além disso, prematuridades iatrogênicas e denúncias de violências obstétricas difundidas nas redes sociais e pela grande mídia levaram à ampliação do movimento de mulheres pela humanização do parto e nascimento e de políticas públicas de mudança e qualificação do modelo obstétrico brasileiro”, conclui.

Como exemplo deste movimento, há a Rede Cegonha, que assegura às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo, a atenção humanizada à gravidez, parto, abortamento e puerpério, e às crianças, ao nascimento seguro, crescimento e desenvolvimento saudáveis. “Desde 2012, o Ministério da Saúde tem implantado o Programa Rede Cegonha no SUS e, mais recentemente, na rede privada, está em curso uma Colaborativa pelo Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que propõe mudanças e consequente melhora dos indicadores”, conta Vera Bonazzi.

Esta mudança de mentalidade sobre o parto e o nascimento surgiu com a implantação do HumanizaSUS, em 2003. A Política Nacional de Humanização foi implementada com o objetivo de efetivar os princípios do SUS no cotidiano das práticas de atenção e gestão, qualificando a saúde pública no Brasil e incentivando trocas solidárias entre gestores, trabalhadores e usuários. “A partir da Política Nacional de Humanização, o Ministério da Saúde passou a recomendar, nos projetos de reforma e em novas construções, espaços que permitam a privacidade da parturiente e de seu acompanhante, e favoreçam o acolhimento e atendimento adequados e singulares”, contextualiza a Enfermeira.

PARTO

A presença da Enfermeira obstetra favorece a realização de partos normais, além de ser recomendada pelo Ministério da Saúde

Para melhor atendimento à parturiente, o local deve permitir a movimentação ativa da mulher, o acesso a métodos não farmacológicos e não invasivos de alívio à dor, que estimulem a evolução fisiológica do trabalho de parto. “Oferecer equipamentos que favoreçam o parto em posição verticalizada, como a oferta da banqueta do nascimento, escadas de Ling, camas com aro e que permitam a posição semideitada. O ambiente deve ser silencioso, respeitoso e com baixa luminosidade. A ambiência física deve ser favorável à realização de partos normais”, acrescenta Vera Bonazzi.

NOVAS OPORTUNIDADES PARA A ENFERMAGEM

Iniciativas como esta abrem novas possibilidades profissionais para a Enfermagem, que carece de especialistas na área. “Com a Rede Cegonha, que preconiza a inserção da Enfermeira obstetra na equipe de assistência, buscando impactar nos indicadores de morbimortalidade e redução cesárea, tem-se aumentado a demanda pela contratação dos profissionais da Enfermagem obstétrica pelas maternidades brasileiras”, confirma Vera Bonazzi. Além disso, a Enfermeira observa que tem aumentado o número de concursos e cursos de especialização voltados para a área. Mesmo assim, a quantidade de especialistas no mercado é reduzida. “Hoje, acredito que teríamos que chegar a 100 mil, no mínimo”, completa.

Para atuar na área e preencher esta lacuna, a Enfermeira RT do Hospital Sofia Feldman diz que a melhor forma de qualificação é a residência em Enfermagem Obstétrica. “O profissional é formado na prática, baseado nas competências do International Confederation of Midwives (ICM). Existem outras, como a especialização com mínimo de 360 horas e a prova de título pela Abenfo, com comprovação de, no mínimo, três a cinco anos de prática na área”, exemplifica algumas.

De acordo com Vera Bonazzi, a inserção da Enfermeira obstetra na equipe favorece a realização de partos normais e é recomendada pelo Ministério da Saúde para as maternidades. “Com o objetivo de diminuir o número de cesarianas e estimular a realização de partos normais, a Enfermeira obstetra é treinada para cuidar, acolher e respeitar o tempo do trabalho de parto. Partos de risco habitual podem ser assistidos por estas profissionais e, em casos de intercorrências, serem encaminhados para a equipe médica”, conta.

Na realização do parto humanizado, a Enfermagem tem de estar ao lado da mulher, respeitando suas escolhas e utilizando das boas práticas recomendadas pela OMS e Ministério da Saúde no parto e nascimento, como enfatiza Vera Bonazzi. “Trabalhar de forma direta, autônoma e em equipe colaborativa e multiprofissional. Espera-se da Enfermeira obstetra uma atitude de respeito às escolhas da mulher, a adesão às boas práticas ao parto e nascimento.”

As consequências desse trabalho, que tem a participação ativa do profissional de Enfermagem, oferece benefícios tanto no parto normal quanto na cesariana, conforme a Enfermeira. “A recuperação após o parto normal é mais rápida, as complicações menos frequentes, menos dor após o parto, a amamentação é mais fácil, menos problemas respiratórios para os bebê, menor risco do bebê nascer prematuro e menor tempo de internação.”

De acordo com Vera Bonazzi, a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que apenas 15% dos partos demandem uma intervenção cirúrgica. “Existem boas práticas que devem ser, também, aplicadas em cesarianas, como, por exemplo, o pele a pele após o nascimento, a presença do acompanhante, o corte do cordão umbilical pelo pai e a amamentação na primeira hora. Tanto em partos normais quanto nas cesarianas deve-se atender com humanidade e respeito à mulher”, destaca.

Fonte: Jornal do Coren/MG