Coren/SC participa de debate sobre EaD nos cursos da área da saúde

Ocorreu na tarde de ontem, dia 27 de julho, o Painel de Educação a Distância na Área de Saúde, no Centro de Ciências da Saúde da UFSC, uma promoção do Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina (CRF-SC) para debater esse tema que vem impactando na formação de profissionais e vai além de questões técnicas acadêmicas. O Coren/SC foi convidado a participar do debate e a presidente da entidade, enfermeira Msc. Helga Bresciani, fez uma palestra para contribuir com as discussões. O Conselheiro Federal de Farmácia por Santa Catarina, Paulo Roberto Boff, foi mediador do debate que reuniu entidades representativas da Farmácia, instituições de ensino como IFSC, UFSC e FURB, assim como o Conselho de Fisioterapia e Terapia Ocupacional de Santa Catarina (Crefito) e representantes de CRFs de São Paulo, Paraná, São Paulo e Goiás. DSCN1011

A presidente do Coren/SC apresentou dados concretos sobre a situação dos cursos de ensino à distância (EaD) na área da Enfermagem e como vem sendo difundido sem cuidado com a qualidade das aulas, além de oferecer cursos em cidades pequenas que nem possuem unidades suficientes para absorver os alunos que precisam fazer estágio para atender as diretrizes curriculares da Enfermagem. “O Sistema Cofen/Corens são contrários ensino à distância que tenha mais de 20% das disciplinas nessa modalidade conforme a legislação permite . Não conseguimos compreender como é possível aprender o cuidado à distância.DSCN1080 Nossa trabalho depende das relações e as habilidades não podem ser desenvolvidas à distância, pois somos gente cuidando de gente, assim como em todas as profissões da área da saúde”, disse Helga, esclarecendo porque o Coren/SC é contra essa virtualidade completa nos cursos que abrem polos em qualquer lugar de maneira desordenada e sem a preocupação com a prática segura e a assistência de qualidade.

“É um tema urgente a ser tratado e é louvável a iniciativa do CRF-SC de convidar para o debate os demais profissionais da área da saúde, pois o que se quer é compreender quais os riscos e quais as oportunidades que se abrem com a implantação desta tecnologia, e fazer qualquer processo de graduação ocorrer de forma correta”, contextualizou Paulo Roberto Boff.

A vice-presidente do CRF-SC, Karen Denez, fez a saudação inicial aos participantes informando que, embora não se queira “demonizar” o processo de educação a distância, parece evidente que, na área da saúde, há algumas práticas que requerem intenso aprendizado presencial. “Os farmacêuticos estudam em laboratórios, analisam materiais biológicos em lâminas, manipulam insumos químicos e orgânicos, e é preciso, no mínimo, regulamentar como isto pretende ser implantado em cursos a distância, monitorado e avaliado”, disse Karen.

DSCN1122O presidente do Conselho Nacional de Saúde, Ronald Ferreira dos Santos, fez uma fala mais política, ressaltando que há uma disputa pela área da educação, afinal os investimentos em saúde e educação representam 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, o que desperta o interesse de operadores globais para estarem no país e assim vemos grandes grupos expandindo polos de ensino em todos os lugares. “A preocupação é ver as empresas preocupadas em atender acionistas e focar apenas na melhora da taxa de retorno, e não mais em atender um direito da população para o ensino de qualidade”, disse Ronald, dizendo que todos esses elementos devem estar na análise do ensino à distância. O Conselho Nacional de Saúde aprovou em junho a Resolução CNS 515 para proibir a existência de cursos de graduação e formação técnica na área da saúde em todo o Brasil na modalidade EaD, mas aguardam a homologação do ministro interino da Saúde.

O debate aberto pelo CRF-SC tem encaminhamentos técnicos, políticos e jurídicos. “Temos que nos mobilizar, não só a categoria, mas todos os profissionais de saúde, para poder elevar esta discussão ao nível da formulação da Política Nacional de Educação, que permite a EAD, mas não estipula claramente as regras. É neste nível político que devemos intervir, tendo como base o conhecimento científico e técnico”, afirma o presidente da Comissão de Ensino do CRF-SC, Luciano Soares.

“ O Conselho Nacional de Educação criou um marco regulatório para a EAD em 2015”, explicou o filósofo e psicólogo Sérgio Franco: “não se trata apenas de ensinar à distância, mas de todo um novo processo pedagógico. O curso pode ser 60% presencial e ainda assim ser considerado à distância, porque o conceito está ligado ao método, que subverte alguns processos como abrangência geográfica, presencialidade, virtualidade, regras de carga horária e sincronicidade”.

O evento foi elaborado e promovido pela Comissão Assessora de Ensino do CRF-SC, com mais de 50 participantes de diversos estados brasileiros. “O Brasil precisa mesmo expandir sua educação superior. Temos hoje 16% dos jovens em idade universitária dentro das faculdades. Há que se atingir ainda 84%, mas como alcançar referenciais de qualidade e quais profissões devem ser contempladas? Este é um debate político da sociedade, que não se atém ao universo acadêmico”, comentou o professor Sérgio Franco.

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A análise dos resultados da EAD em cursos da área de saúde foi avaliado pela presidente da Associação dos Farmacêuticos do RS, Agnes Grossenheimer. “Há dados positivos, como maior interação dos professores e bom desempenho dos alunos na solução de problemas, mas a autoaprendizagem é apontada como um processo difícil e insatisfatório, porque depende de imensa disciplina dos alunos. E a tecnologia oferecida nem sempre funciona como deveria, criando dificuldades de acesso a conteúdo, e enorme carga de trabalho sob os estudantes”, explicou Agnes