Artigo – Saúde: O problema seria mesmo a superlotação?

Artigo do Conselheiro do Conselho Federal de Enfermagem e professor da UFSC, Enfermeiro Dr. Gelson Albuquerque, critica falta de investimentos na saúde e aponta déficit de profissionais de Enfermagem nos hospitais Municipal São José (Joinville), Regional Hans Dieter Schmidt (Joinville) e Caridade (Florianópolis).

O texto “Saúde: O problema seria mesmo a superlotação?” publicado nesta segunda-feira (24 de fevereiro) no Jornal A Notícia ressalta déficit de 799 profissionais de Enfermagem nessas três instituições de saúde, conforme informações do Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (Coren/SC) apurado nas fiscalizações. Gelson Albuquerque critica: “E então? Com quase 800 profissionais de Enfermagem, no mínimo, necessitando ser contratados para prestar assistência de Enfermagem aos usuários é possível prestar um cuidado com excelência? É crível exigir que estes profissionais continuem trabalhando nesta situação de superexploração, ocultando o que não é revelado: um festival de incompetência na gestão e no planejamento, bem como de risco aos usuários do setor? Certamente se os gestores se preocupassem com a excelência em saúde a situação não chegaria a esse ponto. Também não precisaria o Coren/SC brigar na justiça para que a instituição contratasse a quantidade mínima de profissionais exigida por lei para assistência em Enfermagem”.

Acompanhe o artigo do Conselheiro Federal Gelson Albuquerque na íntegra

Saúde: O problema seria mesmo a superlotação?

Gelson Albuquerque, Doutor Enfermeiro, professor da UFSC, Conselheiro do Conselho Federal de Enfermagem.

gelson 5_c(1)A pauta não sai dos jornais: faltam leitos, pessoas empilhadas em macas, sentados por dias em poltronas e/ou cadeiras, sobram reclamações para as instituições de saúde, demora no atendimento. É assim em praticamente todas as instituições de saúde de Santa Catarina, em especial, as situadas em municípios de médio e grande porte. Mas o problema seria mesmo a superlotação? Certamente não. A superlotação é só mais uma consequência da falta de investimentos, do descaso ou da incompetência de muitos gestores.

O déficit de profissionais de Enfermagem nas instituições de saúde representa uma problemática que expõe Enfermeiros, Técnicos e Auxiliares de Enfermagem ao desgaste físico e emocional e possivelmente ao erro, pois o trabalho exige concentração, cuidado, atenção. Existe legislação (Resolução Cofen nº 293/2004) para que as instituições disponham de quantitativo mínimo de profissionais de Enfermagem para assistência segura e de qualidade. O Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (Coren/SC) fiscaliza, orienta, notifica e como na maioria dos casos a instituição não se adequa, o Coren/SC tem que entrar judicialmente para garantir o quantitativo mínimo de profissionais. Mas como os processos judiciais são morosos, as decisões também demoram. E as manchetes continuam as mesmas!

O déficit de profissionais dos três hospitais que estão em pauta nos jornais de Santa Catarina nos últimos dias, são eles: Imperial Hospital de Caridade (Florianópolis), Hospital Municipal São José (Joinville) e Hospital Regional Hans Dieter Schmidt (Joinville), era na época da fiscalização do Coren/SC de 799 profissionais de Enfermagem para atender apenas ao que está posto, sem qualquer ampliação.

No caso do Hospital de Caridade, a situação é mais grave: faltam profissionais e a jornada semanal de trabalho é de 44 horas, uma afronta ao preconizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para este tipo de atividade, que recomenda jornada de, no máximo, 30 horas semanais.

E então? Com quase 800 profissionais de Enfermagem, no mínimo, necessitando ser contratados para prestar assistência de Enfermagem aos usuários é possível prestar um cuidado com excelência? É crível exigir que estes profissionais continuem trabalhando nesta situação de superexploração, ocultando o que não é revelado: um festival de incompetência na gestão e no planejamento, bem como de risco aos usuários do setor?

Certamente se os gestores se preocupassem com a excelência em saúde a situação não chegaria a esse ponto. Também não precisaria o Coren/SC brigar na justiça para que a instituição contratasse a quantidade mínima de profissionais exigida por lei para assistência em Enfermagem. E esse é “só” um dos problemas. Precisamos de mais investimentos e condições de trabalho para os profissionais de saúde.

A propósito: se os membros das diversas procuradorias e cortes brasileiras, dos parlamentos, dos executivos federais, municipais e estaduais utilizassem estes serviços nestas instituições, certamente, a morosidade por uma solução não seria eterna. Ao final quem paga o pato são os contribuintes, os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e os trabalhadores da saúde.

Confira o artigo publicado no Jornal A Notícia, de 24 de fevereiro