Seminário de aprimoramento de Enfermagem Obstétrica socializa boas práticas de assistência ao parto e nascimento

Iniciativa do Ministério da Saúde, por meio da Rede Cegonha, oportunizou a 64 Enfermeiros de diversas regiões do país imersão profissional no Hospital Sofia Feldman, de Belo Horizonte (MG), referência nacional na humanização do parto e nascimento. De Santa Catarina, foram selecionadas quatro Enfermeiras: duas do Hospital Municipal Ruth Cardoso, de Balneário Camboriú, e duas do Hospital Regional Dr. Homero de Miranda Gomes, de São José.

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“Foi uma experiência única. Cumprimos escala de 12h de trabalho, o que possibilitou a percepção detalhada da prática de humanização executada no Hospital Sofia Feldman”, disse a Enfermeira Obstétrica e Diretora de Enfermagem do Hospital Ruth Cardoso, Dalni Leontina Pereira.

A 1ª etapa do Curso de Aprimoramento da Enfermagem Obstétricas foi realizada no ano passado com a participação das Enfermeiras de diversas regiões do país no Hospital Sofia Feldman. Foram 132 horas de carga horário, sendo 120h de atividades práticas e 12h destinadas à participação em Oficinas de Trabalho. No retorno para as instituições onde trabalham, as Enfermeiras participantes do curso tinham uma missão: socializar os conhecimentos adquiridos; e aprimorar o modelo de atenção à saúde da mulher e ao recém-nascido.

A 2ª etapa do Curso, desenvolvida na terça-feira (20 de janeiro), em Florianópolis, reuniu Enfermeiros da Atenção Básica e hospitais de diversos municípios de Santa Catarina, membros de movimentos organizados para humanização do parto, representantes dos Grupos Condutores Estadual e Regionais da Rede Cegonha, integrantes da Associação Brasileira de Enfermeiras, Obstetras, Neonatais e Obstetrizes do Estado de Santa Catarina (ABENFO-SC) e do Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (Coren/SC), além de médicos pediatras e gestores. A proposta do Seminário consistiu em compartilhar a experiência vivida pelas quatro Enfermeiras catarinenses no Hospital Sofia Feldman e o relato da intervenção nos serviços a partir da 1ª etapa do curso. Duas Enfermeiras Obstetras do Hospital Sofia Feldman também palestraram para contribuir com as explicações sobre o modelo assistencial aplicado no hospital mineiro.

Modelo colaborativo aplicado no Hospital Sofia Feldman
Seminário-de-Enfermagem-obstetra-053“O modelo assistencial desenvolvido no Hospital Sofia Feldman é o colaborativo com trabalho em equipe multiprofissional e integrado. A incorporação da Enfermeira Obstetra nas equipes assistenciais de hospitais/maternidades e/ou Centros de Partos Normais representa passo importante para a construção do modelo colaborativo, em consonância com a política de humanização. No modelo colaborativo, a solução dos problemas não depende apenas do gestor. Há uma colaboração entre todos os envolvidos na solução desses problemas”, detalhou a Enfermeira Obstetra do Hospital Sofia Feldman, Débora Lucas Viana.

As Enfermeiras mineiras contaram que as parcerias do Hospital envolvem também a rede educacional, a exemplo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para Formação de Enfermeiros especialistas em Obstetrícia, bem como cursos de aprimoramento: Suporte Avançado de Cida em Obstetrícia, Auxiliar de Reanimação Neonatal, Cardiotocografia e Aleitamento Materno.

“Nós percebemos que o Hospital tem muitos braços. Nas ruas próximas, tem: Casa da Gestante, destinada às gestantes que necessitam de acompanhamento de maior complexidade, mas que não necessitam permanecer no hospital; e Casa do Bebê, espaço onde ficam alojados mãe e bebê até que a criança alcance o peso ideal”, conta a Enfermeira Obstetra do Hospital Regional Dr. Homero de Miranda Gomes, Letícia D. Frutuoso.

A capital mineira possui ainda Comissão Perinatal de Belo Horizonte, um fórum gestor interinstitucional com a participação da sociedade civil, profissionais, conselhos, universidades e movimentos organizados. Todos unidos para a promoção da saúde e qualidade de vida da mulher e da criação de maneira: universal, integral e equitativa.

O vídeo “Caminhos para Humanização na Assistência ao Parto e Nascimento” relata, por meio de depoimentos, a importância da aplicação desse modelo colaborativo e assistência humanizada.

Parte 1

Parte 2

Boas práticas de assistência ao parto e nascimento
Com base na experiência vivenciada no Hospital Sofia Feldman, as Enfermeiras catarinenses listaram as boas práticas desenvolvidas em Belo Horizonte para o bem-estar das gestantes, parturientes, familiares e bebês. Uma prática que envolve toda a rede de atenção:
– autonomia da mulher e participação ativa do acompanhante;
– importância do pré-natal;
– Plano de Parto (empoderamento da mulher);
– Utilização de referência e contra-referência;
– Conhecimento técnico-científico dos profissionais;
– Autonomia dos Enfermeiros em todo o processo de trabalho;
– Envolvimento da Direção, da Universidade, Associações, Conselhos e movimentos;
– Credibilidade do serviço;
– Protocolos definidos;
– Equipe multidisciplinar coesa;
– Investimento na educação continuada;
– Reconhecimento do simples e sua funcionalidade;
– Conhecimento, dedicação e reconhecimento da doula;
– Liberdade da mulher no trabalho de parto;
– Monitoramento de indicadores de nascimentos e óbitos desde 1999;
– Atividades práticas integrativas e não farmacológicas;
– Promoção do vínculo mãe-bebê-família e amamentação.

Aprimoramento das práticas nos Hospitais Ruth Cardoso e Regional Dr. Homero de Miranda Gomes
O relato da experiência das Enfermeiras catarinenses na 2ª etapa do curso envolveu também a aplicação dessas práticas nas instituições onde trabalham, multiplicando as informações e sensibilizando a equipe para um novo modelo de atenção à saúde da mulher e do recém-nascido.

“Lá, no Sofia Feldman não tem nada sofisticado. Tudo é simples e dá certo”, avaliou a Enfermeira do Hospital Regional Dr. Homero de Miranda Gomes, Luciane de Ávila.

Seminário-de-Enfermagem-obstetra-077No Hospital Ruth Cardoso, estão sendo desenvolvidas ações para humanização do parto como:
– Apresentação e discussão do protocolo de classificação de risco no Centro Obstétrico;
– Protocolo de aplicação de cardiotocografia (fase de implantação);
– Acompanhante 24h no alojamento conjunto;
– Acompanhante durante o processo de nascimento;
– Prática do contato pele a pele imediato após o nascimento;
– Implantação de terapia integrativa;
– Aplicação de métodos não farmocológicos para alívio da dor;
– Paciente recebe dieta líquida, de acordo com sua aceitação, durante todo o trabalho de parto.

No Hospital Regional Dr. Homero de Miranda Gomes, também foi proposto e está em implantação o seguinte plano de ação:
– Organização em conjunto com a unidade de saúde a visita de grupos de gestantes, conforme plano de parto feito na rede de atenção básica. Visitas acontecem às quartas-feiras;
Seminário-de-Enfermagem-obstetra-079-Acolhimento e classificação de risco: reorganização da classificação de risco existente de forma que seja feita por um Enfermeiro Assistencial; admissão da parturiente feita na triagem por Enfermeiro Obstetra dando ênfase a orientações relacionadas ao trabalho de parto; implementação de teste de cristalização para confirmação de perde de líquido nos casos de suspeita de bolsa rota (material solicitado);
– Boas práticas: promover ambiente tranquilo e investir na capacitação de profissionais;
– Foi ampliado o horário de refeições. Durante o trabalho de parto, pacientes recebem sucos, gelatinas e sopas;
– Contato pele a pele entre mãe e bebê; alimentação na primeira hora de vida.

Visitas técnicas aos dois hospitais
As Enfermeiras mineiras estão realizando na quarta e quinta-feiras (21 e 22 de janeiro) visitas técnicas aos Hospitais Regional Dr. Homero de Miranda Gomes e Ruth Cardoso para acompanhar as mudanças, bem como conversando com gestores e equipe multiprofissional.
“Esse curso certamente não se encerra com essas duas etapas, pois trocamos contatos e estamos sempre à disposição para o intercâmbio de experiências e conhecimentos”, ponderou a Enfermeira Obstétrica do Sofia Feldman Débora Lucas Viana.

Marcos regulatórios do exercício profissional do Enfermeiro Obstetra
Seminário-de-Enfermagem-obstetra-058Durante o Seminário do Curso de Aprimoramento da Enfermagem Obstétrica, da Rede Cegonha, a palestrante Karla Adriana Caldeira, Enfermeira Obstetra do Hospital Sofia Feldman, destacou as bases legais para atuação do Enfermeiro Obstetra. “A Enfermagem Obstétrica tem o exercício profissional garantido em lei e tem respaldo para assumir responsabilidades no cenário da atenção e gestão, parto e puerpério, e ao recém-nascido”.

Entre a legislação relacionada a essa atuação do Enfermeiro, a palestrante destacou as Resoluções Cofen nº 223/1999, que dispõe sobre a atuação de Enfermeiro na Assistência à Mulher no Ciclo Gravídico Puerperal, e nº 339/2008, que normatiza a atuação e responsabilidade civil do Enfermeiro Obstetra nos Centros de Parto Normal e/ou Casas de Parto.

A exposição concluiu que, apesar de regulamentada, a atuação dos Enfermeiros Obstetras ainda é pouco expressiva e os dados dessa atuação são quase inexistentes. “É necessário que os profissionais se mobilizem para garantir sua atuação, conforme os dispositivos legais, e assim contribuir para o planejamento das políticas de atenção à saúde da mulher, recém-nascido e família, bem como as políticas de qualificação do modelo de atenção ao parto e nascimento”, finalizou Karla.

Seminário-de-Enfermagem-obstetra-022A Presidente do Coren/SC, Enfermeira Msc. Helga Bresciani, enfatizou que o primeiro passo para essa atuação é o registro do título no Conselho. “A Resolução Cofen nº 439/2012 estabelece a obrigatoriedade do registro do título de especialista em Enfermagem Obstétrica. Para estimular esse registro, o Coren/SC não cobra taxa de registro do título de especialista em Enfermagem Obstétrica”, enfatizou a Presidente do Coren/SC, convidando os Enfermeiros Obstetras para se registrarem no Conselho.

Como aprimoramento para o trabalho profissional, a Presidente do Coren/SC informou que o Conselho dispõe de Câmara Técnica de Saúde da Mulher e do Recém-Nascido, do qual participam experts no assunto, entre eles membros da ABENFO-SC. A atribuição da Câmara Técnica é responder questionamentos advindos dos profissionais de Enfermagem para contribuir com o exercício ético-profissional.

Acompanhe aqui a apresentação Marcos Regulatórios do Exercício Profissional do Enfermeiro Obstetra

Rede Cegonha
Seminário-de-Enfermagem-obstetra-052A representante do Grupo de Condução Estadual da Rede Cegonha de Santa Catarina, Enfermeira Carmem Delziovo, relatou aos participantes as diretrizes, desafios e atuações da Rede Cegonha no Estado, além de abordar sobre a nova Resolução Normativa da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) nº 368/2015-ANS, que dispõe sobre o direito de acesso à informação das beneficiárias aos percentuais de cirurgias cesáreas e de partos normais, por operadora, por estabelecimento de saúde e por médico e sobre a utilização do partograma, do cartão da gestante e da carta de informação à gestante no âmbito da saúde suplementar; além da Portaria nº 11/2015, que estabelece novas diretrizes para implantação do Centro de Parto Normal.

Instituída pela Portaria nº 1.459/2011, a Rede Cegonha tem como diretrizes:
Garantia do acolhimento com avaliação e classificação de risco e vulnerabilidade, ampliação do acesso e melhoria da qualidade do pré-natal.
Garantia de vinculação da gestante à unidade de referência e ao transporte seguro.
Garantia das boas práticas e segurança na atenção ao parto e nascimento.
Garantia da atenção à saúde das CRIANÇAS de 0 a 24 meses com qualidade e resolutividade.
Garantia de acesso às ações do planejamento reprodutivo.

Tem como objetivos estratégicos:

• Reduzir a mortalidade materna e infantil com ênfase no componente neonatal
• Organizar a Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil para que esta garanta acesso, acolhimento e resolutividade.
• Fomentar a implementação de um novo modelo de atenção à saúde da mulher e à saúde da criança, abrangendo o direito ao planejamento reprodutivo, pré-natal, atenção ao parto, ao nascimento, ao crescimento e ao desenvolvimento da criança de 0 a 24 meses.

A Rede Cegonha inclui: pré-natal, parto e nascimento, puerpério e atenção integral à saúde da criança, e sistema logístico: transporte sanitário e regulação.

Como ação para 2015, a Rede Cegonha fará o monitoramento in loco dos hospitais de referência regional e também monitoramento do pre natal na atenção básica. “O plano de ação começou no ano passado com os hospitais do Planalto Norte-Nordeste e Grande Florianópolis. Neste ano, serão monitorados os hospitais das demais regiões”, explicou Carmem Delziovo.

Nas maternidades, serão observados, entre outros, pontos importantes da atenção como:
– Direito ao acompanhante da mulher e do recém-nascido;
– Acolhimento e classificação de risco na Maternidade;
– Contato pele a pele;
– Existência dos leitos obstétricos e neonatais de referência de alto risco.

A Conselheira do Coren/SC, Enfermeira Dra. Evanguelia Kotzias Atherino dos Santos, lembrou que serão feitas reavaliações das instituições credenciadas ao Hospital Amigo da Criança. “A proposta é que os hospitais credenciados se mantenham como Amigos da Criança e seja ampliado esse número no Estado”, afirmou. Para tanto, a representante do Grupo de Condução Estadual da Rede Cegonha em Santa Catarina, Enfermeira Carmem Delziovo, anunciou que hospitais que ainda não são credenciados terão apoio de profissionais especialistas na área como “padrinhos” para que some esforços para essa conquista.

Avaliação
“Atividades como este Seminário são fundamentais para humanização no cuidado e para promovermos a mudança no modelo tecnocrata; redução do número de cesarianas desnecessárias; melhora no contato pele a pele e boas práticas de assistência ao parto e nascimento”, ponderou a Presidente da ABENFO-SC, Enfermeira Larissa Rocha. Confira aqui as contribuições da ABENFO-SC para consolidação da Rede Cegonha.

“Foi um encontro muito produtivo para que possamos vislumbrar como podemos agregar melhorias na orientação à gestante durante o pré-natal”, avaliou a Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde de Jaraguá do Sul, Luciele Pereira.