Perspectiva Social das mulheres profissionais de Enfermagem na organização da sociedade e na interdisciplinaridade

Confira abaixo o artigo escrito pela Presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (Coren/SC), Enfermeira Msc. Helga Bresciani, abordando a contribuição das mulheres profissionais de Enfermagem para conquistas de direitos das mulheres.

Helga Bresciani(2)Perspectiva Social das mulheres profissionais de Enfermagem na organização da sociedade e na interdisciplinaridade

A Enfermagem profissional é reconhecida pelo quanto tem se posicionado ao lado da trajetória histórica das mulheres e, na trajetória da sua inserção no conjunto das profissões da saúde. A trajetória feminina tem sido visualizada pela profissão não apenas configurada como diferença de gênero, mas sim como destaque da contribuição das mulheres no mundo da educação, da saúde, da cultura, das artes e destacadamente no caráter científico profissional; por assim dizer, em todos os planos e em todas as instâncias de construção de modos de viver, desde o tempo em que as mulheres praticavam cuidados instintivos das famílias.

No Brasil, a Enfermagem protagonizou a entrada da mulher no mundo dos estudos superiores nos anos 1920, quando eram raras as mulheres que frequentavam cursos ou trabalhavam fora de casa e menos ainda entravam na força de trabalho, estando longe do sentido de sua autonomia, mesmo nos primeiras décadas do século XX. A luta para o reconhecimento da mulher como ser humano, a qual a Enfermagem exerceu liderança junto a outros grupos, hoje, tem evoluído desde que as mulheres passaram pela superação do não voto até a condição de serem votadas. Em 1923, foi inusitado no Rio de Janeiro, o protagonismo de um curso de Enfermagem, só de alunas (mulheres), funcionando na qualidade de ensino superior. Assim, quando havia apenas uma ou outra mulher nos cursos de nível superior, em meio ao universo masculino das profissões científicas, a Enfermagem foi a exceção, pelo seu protagonismo abrindo nova perspectiva social. Nesse protagonismo, as mulheres da Enfermagem, foram se inserindo na condição libertária, em sua mais plena condição de seres humanos, enfermeiras, professoras de Enfermagem, e nos dias de hoje, enfermeiras mulheres parlamentares, enfermeiras mulheres na política partidária, enfim, hoje evoluímos pelo protagonismo das mulheres, a ponto de termos mulheres, até mesmo, na presidência de alguns países, a exemplo o Brasil. Essas conquistas das mulheres são reflexos das lutas de libertação da mulher e é inegável a influência da profissão no bojo da ciência do início do século XX.

Nos anos de 1960, o contexto social fez emanar um novo movimento da Enfermagem. O país vivia culturalmente embotado pela chegada da ditadura militar, com a educação retraída pela dominação vigente, a assistência limitada pelos institutos previdenciários e, mesmos nos hospitais de ensino em modelos tecnicistas ao lado de uma associação de enfermagem de vulto nacional politicamente silenciosa e cumpridora dos ditames do ensino e da assistência comandados pelo Estado. Uma série de domínios e desmantelos construindo ao avesso das desejáveis práticas libertárias. Esse contexto fez deflagrar outro protagonismo conseguido com muita orquestração e lutas democráticas crescentes ainda que árdua – a luta do Movimento Participação.

No final do século XX, quando o mundo vive a emergência de novos paradigmas, a experiência acumulada da Enfermagem no Brasil, a Carta Magna, situando a vitória de bases a um novo sistema de saúde, após reconhecimento da saúde como direito de todos e dever do Estado, também se conforma com outra perspectiva social.

Refletir sobre a nossa profissão de Enfermagem convida-nos a nos colocar não apenas dentro dela, mas no conjunto das profissões de saúde, para discutir nosso trabalho e a incessante busca de cidadania, tendo em conta a nossa vida profissional individual e coletiva. Mudara-se a organização da sociedade e nossa organização profissional, como parte dela.

Muitas foram as conquistas, mas as lutas das mulheres profissionais de Enfermagem continua. Lutas por melhores condições de trabalho, a exemplo da jornada de trabalho em 30h semanais para a categoria (Projeto de Lei nº 2295/2000). Ao todo são mais de 1,8 milhão de profissionais de Enfermagem no país e 50 mil em Santa Catarina, sendo que as mulheres representam cerca de 90% da força de trabalho da Enfermagem.

Neste Dia Internacional da Mulher, o Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (Coren/SC) homenageia as mulheres que fazem história nos diferentes campos da Enfermagem e reforça as lutas em busca de uma assistência cada vez mais segura e de qualidade.

Enfermeira Msc. Helga Regina Bresciani
Presidente do Coren/SC