ENTREVISTA – Enfermeira Ana Cristina Magalhães Fernandes fala sobre os avanços da Enfermagem na Atenção Básica

IMG_0693Formada pela Universidade Federal da Bahia em 2003, a Enfermeira Ana Cristina Magalhães Fernandes trabalhou no interior da Bahia na Estratégia de Saúde da Família e depois retornou para Salvador a fim de iniciar residência em Medicina Social com ênfase em Saúde da Família. Em 2008, ingressou  via concurso público na Prefeitura Municipal de Florianópolis e seguiu a trajetória profissional na atenção primária à saúde, área que sempre teve muito interesse e fascínio. Após alguns anos diretamente na assistência, iniciou em 2016 na coordenação do Centro de Saúde onde já trabalhava enquanto Enfermeira da Estratégia Saúde da Família.

 

Quais os avanços da Enfermagem na Atenção Básica?

Os avanços da Enfermagem são notórios no campo da ampliação da clínica pelo enfermeiro, na qual o mesmo pode identificar situações importantes e intervir de maneira segura para impedir as doenças ou condições que interferem diretamente no processo de adoecimento da população. Um exemplo deste avanço é a possibilidade de identificar casos de sífilis e tratar, dentro de protocolos estabelecidos, o que gera grande impacto na epidemia declarada dessa doença que temos hoje no Brasil. Temos profissionais capazes de identificar e tratar as doenças crônicas como hipertensão e diabetes, diminuindo assim a necessidade do cidadão em ter que acessar níveis secundários e terciários dos serviços, reduzindo internações e promovendo a saúde de maneira integral e colocando em prática os atributos da atenção primária à saúde. Avançamos enquanto categoria quando reconhecemos o nosso papel e colocamos em prática o que de fato é necessário para melhorar as condições de saúde da população e a qualidade do serviço oferecido. Para isso, é necessário estarmos conectados às mudanças e avanços tecnológicos e de prática clínica, utilizando as mais atuais evidências e o contexto de Saúde Pública para mantermos a Enfermagem sempre no patamar de protagonismo na tomada de decisão na atenção primária à saúde (APS).

 

Existem retrocessos?

Os retrocessos políticos de diminuição de recursos financeiros para a saúde, além daqueles já mencionados, como questões corporativistas e de reserva de mercado podem minar trabalhos excelentes que são prestados à população.

 

Quais são os seus desafios no dia-a-dia?

Os desafios são diariamente colocados em minha frente como uma possibilidade de crescimento. Muitos são motivados pelo baixo incentivo na saúde, recursos escassos, o que desencadeia outros problemas como desmotivação profissional e sobrecarga de trabalho.

 

O que mais lhe anima? E o que desanima?

O que me anima é trabalhar em uma rede que está se fortalecendo pelo bom nível técnico de profissionais de Enfermagem, que estão sempre dispostos a estudar e construir algo que vai além do crescimento pessoal, mas em prol do coletivo e do fortalecimento do Sistema único de Saúde. Temos hoje na rede do município de Florianópolis, por exemplo, uma Comissão de Enfermagem, formada por enfermeiros que não poupam esforços para avançar e qualificar para que o atendimento ao cidadão seja seguro, com ampla resolutividade e baseado nas melhores e mais atuais evidências. Os protocolos de Enfermagem elaborados pela Comissão e trazidos para toda a rede, com treinamentos, momentos de validação e construção conjunta mostram o quanto a união da Enfermagem faz a diferença na nossa prática clínica e nos fortalece enquanto categoria.

O que me desanima é ainda encontrar movimentos contrários a esses avanços, que vem numa lógica de reserva de mercado e de corporativismo, vislumbrando interesses individuais em detrimento ao bem coletivo. Um exemplo disso foi a liminar que recentemente foi concedida ao Conselho Federal de Medicina, que causou transtornos enormes para nossa categoria, limitando o trabalho da Enfermagem, consolidado há anos no cenário da Saúde Pública Nacional. Precisamos estimular cada vez mais os enfermeiros a usarem sua enorme capacidade de intervenção.

 

 

De que forma o Coren poderia contribuir mais com as atividades da Atenção Básica?

O Coren pode contribuir muito com as atividades de fortalecimento da Atenção Primária à Saúde (APS). Estamos avançando com Protocolos de Enfermagem que permitem uma condução da prática do enfermeiro de forma segura. Em Florianópolis, as capacitações da rede municipal para que todos tenham acesso a essas atualizações normalmente são elaboradas pela comissão de Enfermagem e ter o apoio do Conselho para melhorar a logística, com elaboração de material, divulgação do trabalho e esclarecimento do papel do enfermeiro para a população na mídia é muito importante. Fiscalizar e reforçar a atuação deste profissional  no nível de decisão técnico-científica e ético-profissional é fundamental para garantir a melhoria progressiva da prática do enfermeiro na APS.