Delegação de Santa Catarina
Profissionais de Enfermagem de todas as regiões do Brasil e de outros países, além de autoridades nacionais e internacionais, estiveram juntos na tarde desta quarta-feira (24/4) para marcar o lançamento da campanha global Nursing Now. A parceria entre a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Conselho Internacional de Enfermeiros (CIE) quer chamar a atenção dos governos dos países integrantes da ONU para o papel essencial dos profissionais de Enfermagem nas equipes de saúde. O evento ocorreu em Brasília, na sede da Fiocruz. A presidente do Coren/SC, Helga Regina Bresciani, acompanhou a solenidade com as demais representante do Conselho: conselheira Elizimara Ferreira Siqueira, a coordenadora de Atendimento ao Profissional, Karla Barzan e a procuradora Lilian de Farias Benedet.
Presidente do Cofen
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e o Centro Colaborador da OPAS/OMS para o desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, vinculado à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP, foram os responsáveis pela vinda da campanha ao Brasil.
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O presidente do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), Manoel Neri, alertou os deputados presentes sobre os pontos negativos que a Reforma da Previdência provocará aos profissionais da Enfermagem, entre outros. “A Enfermagem é composta por 85% de mulheres. A proposta da reforma previdenciária obrigará contribuição de 40 anos e trabalhar até 60 anos em ambientes insalubres, em um trabalho desgastante, penoso e, muitas vezes, em plantões de 12 e até 24 horas todos os dias. Nossa categoria merece uma aposentadoria especial”, declarou Manoel Neri.
A coordenadora do Grupo de Trabalho do programa no Brasil, Isabel Mendes, fez a primeira fala destacando que a Enfermagem produz muita inovação nos serviços mas não conseguem dar visibilidade, ou por falta de registros ou porque não se reconhecem como fundamentais no processo. “O ponto vital desta campanha é fazer os próprios profissionais de Enfermagem se valorizarem e estimular cada um a dar visibilidade ao que faz”, disse.
A maior categoria de profissionais da saúde se uniu pelo mesmo propósito no lançamento do programa global que já está em 80 países, e tem por objetivos reconhecer o protagonismo e a excelência da Enfermagem, valorizar e dar destaque ao trabalho destes profissionais.
Segundo Neri a Enfermagem precisa resgatar a sua autoestima, hoje registramos vários casos graves de depressão e suicídio. “O Nursing Now vem para dar uma sacudida na Enfermagem brasileira. E começamos bem com o lançamento nacional. Estão aqui representantes de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal”, frisou Neri. O evento contou também com a participação dos Conselheiros do Cofen, presidentes dos Conselhos Regionais, enfermeiros, técnicos, auxiliares de enfermagem e funcionários do Sistema Cofen/Conselhos Regionais que são parte essencial para o êxito do Nursing Now Brasil.
Ministro da saúde (crédito: Divulgação MS)
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, aproveitou a oportunidade para fazer uma dura crítica ao ensino a distância na saúde e reiterou que espera poder influenciar o debate sobre este tema na Câmara Federal junto com o Cofen, destacando poder funcionar como ponte entre o poder público e a categoria.Ele citou a Atenção Primária como o principal campo de atuação e que o desafio é resgatar esta área como principal dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). “Atenção primária é muito complexa e é nessa área que a Enfermagem tem um campo fértil para documentar sua intervenção no processo de saúde e adoecimento”, disse Mandetta. “Ou fazemos uma boa atenção primária ou não teremos recursos para atender todas as demandas de um sistema universal e equânime”.
“Impossível pensar num ambiente de saúde sem enfermeiros”, enfatizou a diretora regional da Organização Pan Americana da Saúde (OPAS), Carissa Etienne, ao abordar o papel da categoria na prática das instituições. Ela disse que, além de termos poucos enfermeiros no setor primário, a má distribuição dos profissionais entre áreas urbanas e rurais também é um obstáculo, e há dificuldade em mantê-los nos locais de mais difícil acesso. “Outro ponto fundamental é a presença da Enfermagem na estratégia das políticas públicas, por isso a OPAS vem trabalhando com educação para o empoderamento dos profissionais. “Busquem os espaços de liderança! Sem Enfermagem não existe saúde universal”, finalizou.
Emocionada com o lançamento e com a presença de expoentes mundiais e lideranças nacionais, a diretora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP), Maria Helena Marziale, lembrou que há desafios ainda maiores do que os citados pelo ministro: “Precisamos cuidar da formação para ser mais qualificada, necessitamos de melhores condições de trabalho e ainda temos a missão de conseguir trasladar as muitas pesquisas para a prática”.
A deputada federal e enfermeira Carmen Zanotto (SC) prestigiou o evento e destacou suas lutas para garantir à Enfermagem conquistas importantes e há muito tempo sendo esperadas, como jornada de trabalho de 30 horas semanais e piso salarial. Os deputados federais Antônio Carlos Nicoletti (RR) e Léo Moraes (RO) também estiveram na mesa de abertura da solenidade.
O secretário de Estado da Saúde de Santa Catarina, Helton Zeferino, esteve na solenidade representando o governador Carlos Moisés e elogiou a campanha. “Sabemos que a parceria com a Enfermagem é fundamental para termos o atendimento de qualidade na saúde, por isso temos várias ações como os encontros sobre Atenção Primária, o programa de acreditação que avaliará e certificará a qualidade dos serviços nas Unidades de Saúde de Santa Catarina e as residências multidisciplinares. Além disso, queremos potencializar o papel do profissional de Enfermagem já que está presente em todas as cidades”, disse ele.
Impactos das contribuições da Enfermagem para os Sistemas de Saúde – Na sequência da solenidade, as lideranças mundiais de Enfermagem fizeram conferências, iniciando pela cientista-chefe da OMS, Elizabeth Iro, que abordou o fortalecimento dos Sistemas de Saúde. “O trabalho em equipe já faz parte do conceito de Enfermagem e é isso que permite a sustentabilidade do sistema de saúde”, disse ela, lembrando que há muitos desafios, como o fato de os serviços integrados com os pacientes serem mais padronizados. Segundo ela, estima-se que 40% dos recursos sejam perdidos com ineficiência, portanto o planejamento é importante para manter um bom sistema de saúde.
Ao destacar a liderança da Enfermagem para a Saúde Global, a presidente do Conselho Internacional de Enfermeiros, Annette Kennedy, iniciou sua palestra dizendo que a Enfermagem está em todas as áreas de trabalho e é a categoria que se preocupa com aqueles que mais necessitam e estão em regiões de difícil acesso, criam novas formas de tratamento. “As enfermeiras podem fazer inovações, políticas públicas e influenciarem suas áreas de atuação”, disse. Ela argumentou que este exercício da liderança é imprescindível pois é preciso manter mais enfermeiros na profissão, já que são a chave para manutenção e ampliação dos serviços de saúde. “Temos um déficit mundial de nove milhões de enfermeiros e estimamos que nos próximos anos este número possa aumentar para 40 milhões”.
A diretora executiva Global Nursing Now, Barbara Stilwell, ficou surpresa com tanto apoio político. “Pela primeira vez participo de um lançamento da campanha com a presença de tantos gestores e representantes do poder público. Isso revela que estamos no caminho certo e que os resultados poderão ser efetivos”, afirmou. Barbara relatou exemplos de como a Enfermagem lidera algumas iniciativas e como é possível promover a liderança influente, com o compartilhamento de boas práticas.
Com o tema “Orientações Estratégicas para Enfermagem na Região das Américas”, a assessora regional de Enfermagem e Técnicos e Sistemas de Serviços de Saúde da OPAS, Silvia Cassiani, fez uma breve apresentação de algumas ações desenvolvidas pela Organização e adiantou que no dia 12 de maio, Dia Internacional da Enfermagem, serão lançadas as Diretrizes Estratégicas com foco nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que devem ser cumpridos até 2030. Por fim, a coordenadora da área de capacitação da OPAS, Mónica Díaz, exibiu alguns desafios para alcançar o acesso à saúde universal e o papel central dos profissionais de saúde. “Devemos sempre pensar num trabalho conjunto que permita a integração, além do alinhamento de metodologias para o trabalho ser padronizado”, concluiu.
Na parte final da solenidade, a coordenadora do Grupo de Trabalho do programa no Brasil, Isabel Mendes, fez a leitura da Carta de Brasília – Valorização da Enfermagem. O presidente do Cofen, Manoel Neri, encerrou dizendo que saía motivado por ver a Enfermagem ocupando cada vez mais espaços no SUS e, assim, renova-se o trabalho em prol do povo.
Metas do Nursing Now – Entre as principais metas definidas para o Brasil, estão o investimento no fortalecimento da educação e no desenvolvimento dos profissionais de Enfermagem com foco na liderança; a busca pela melhoria das condições de trabalho dos profissionais de enfermagem, e a disseminação de práticas de enfermagem efetivas e inovadoras com base em evidências científicas, em âmbito nacional e regional.