Enfermagem melhora qualidade de vida dos pacientes autistas

Consultório com ambiente lúdico facilita a adaptação à mudança

A Enfermagem praticada da maneira correta pode contribuir para a qualidade de vida de pacientes com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). De acordo com Cleide Oliveira, à frente do primeiro consultório de Enfermagem brasileiro dedicado ao atendimento de pessoas com o TEA e suas famílias, além de contribuir para o diagnóstico precoce – com aplicação de instrumentos padronizados –, os enfermeiros dedicados à saúde mental prescrevem cuidados para melhorar o cotidiano e a convivência em todos os ambientes pelos quais circula o paciente.

“[Como parte da equipe multiprofissional] o enfermeiro atua também como agente terapêutico, intervém no sofrimento dos pacientes com diagnóstico de TEA, realiza atendimentos aos familiares, trabalha com a aceitação do diagnóstico, que traz uma mudança do estilo de vida da família e de todo o ambiente familiar”, explica Cleide.

Considera-se autismo o transtorno do desenvolvimento neurológico marcado por dificuldades, que terão maior ou menor importância para a saúde, na comunicação, na interação social e no comportamento. O diagnóstico do TEA é clínico, acompanhado por várias características que podem incluir comportamento ritualizado e repetitivo, avesso a mudanças na rotina, sensibilidade sensorial, alteração na comunicação e na interação social.

Ainda pode ser percebida tendência ao isolamento, movimentos repetitivos de braços, mãos, corpo, interesse por assuntos fora do comum para a idade da criança, brincadeiras ou uso de objetos de forma incomum, falta de percepção do perigo, sensibilidade a alguns sons, dificuldade em lidar com as mudanças na rotina, falta de consciência do perigo, comportamentos ritualizados, entre outros.

As causas ainda não são conhecidas, mas acredita-se que a condição se deva a múltiplos fatores, com aspectos ligados aos genes e ao ambiente – possivelmente formados no período da gestação do bebê.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), considera-se saúde o bem-estar físico, social e emocional e qualquer coisa que altere um destes aspectos pode ser considerada ausência de saúde. Para os transtornos do espectro autista há 47 possíveis diagnósticos de Enfermagem, que podem ser determinados por isolamento social, comunicação verbal prejudicada, distúrbios no padrão do sono, dificuldade ao tomar banho, entre outros.

Para a família com caso de autismo há 10 situações de atenção: experiência de tensão no papel do cuidador, processos familiares disfuncionais e sentimento de impotência, por exemplo. O enfermeiro pode participar da construção do plano terapêutico junto com a equipe multiprofissional e busca do acompanhamento dos serviços da rede pública de saúde.

        Enfermeira criou quadrinhos para preparar as crianças para                               procedimentos realizados no consultório

Na prática, uma forma de inclusão para o paciente com TEA é a explicação lúdica das intervenções de Enfermagem através de quadrinhos. Por meio do desenho de 12 procedimentos e de três modelos de exames de diagnóstico criados por Cleide, a criança com autismo pode ter uma ideia do que acontecerá ao chegar no consultório. “É uma forma de trazer para o real, o concreto, o procedimento que é feito no atendimento. Só falar o que é o procedimento não é acessível, pode gerar sofrimento e insegurança, então crianças, tanto autistas como sem este diagnóstico, podem se beneficiar da representação lúdica”, explica Cleide, que também é voluntária do programa Enfermagem Solidária, iniciativa do Cofen que oferece um canal de escuta 24h para os profissionais da linha de frente do combate à Covid-19.

Ainda no âmbito de relações familiares, o enfermeiro pode atuar na capacitação dos pais, escolas, e sociedade como agente multiplicador de informação sobre o TEA. Por causa do desconhecimento do problema, principalmente sobre suas causas, a grande dificuldade apontada por especialistas é lidar com o comportamento do autista, que, diferente do que muitos pensam, não vive isolado em um mundo particular. Estimativas internacionais apontam que a prevalência da doença é de um autista para cada grupo de 110 a 150 pessoas.

No último dia 27 de setembro, foi realizado em modalidade híbrida (online e presencial) um curso de capacitação em TEA para 200 profissionais da Enfermagem. Cleide resume a experiência:

“O autismo ainda é pouco conhecido pelos profissionais da Enfermagem, muitos ainda se baseiam no estereótipo do autista que não fala e fica se balançando.  Hoje o TEA tem muitas nuances, do mais severo, com alta dependência e comprometimento ao leve, com altas habilidades e questões sociais e comportamentais que muitas vezes o prejudica no dia a dia”, diz.

Enfermagem em Saúde Mental – “A Saúde Mental diz respeito a transtornos que possam afetar o comportamento,  sentimento, humor e pensamentos das pessoas, estando o TEA entre eles. É preciso um olhar sensível às particularidades do paciente. A Comissão Nacional de Enfermagem em Saúde (Conaesm/Cofen) pretende estabelecer grupos de estudos com os enfermeiros da área fortalecendo o atendimento a pacientes neurodivergentes”, afirma a enfermeira Dorisdaia Humerez, doutora em Saúde Mental e coordenadora da comissão. “No caso específico de autismo, vejo na possibilidade de atendimento domiciliar uma forma de mitigar a dificuldade com ambientes novos e mudanças na rotina”, avalia Dorisdaia.

Consultórios de Enfermagem – A atuação de enfermeiros em consultórios tem respaldo técnico e legal. Realizar consulta de Enfermagem é uma competência do profissional enfermeiro, prevista na Lei 7.498/86, art. 11, inciso I, alínea “i”, pelo Decreto 94.406/87, art. 8º, inciso I, alínea “e”, pelo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, e normatizada pela Resolução Cofen 358/2009. A Resolução 568/2018 regulamenta a atuação dos consultórios, trazendo mais segurança aos profissionais.

Fonte: Ascom – Cofen