Tina London fala da importância da Enfermagem Obstétrica nos Estados Unidos

Com a Conferência intitulada “Uma breve história da Obstetrícia nos EUA – A Obstetrícia no MageeWomens Hospital da Universityof Pittsburgh Medical Center, Pennylvania, EUA – Novos Desafios nos cuidados de Saúde de Mulheres, nos EUA”a Enfermeira Obstétrica Tina London destacou os desafios e as diferenças da área em relação ao Brasil.

A Conferência Internacional ocorreu dia 2 de março e deu início às comemorações dos 15 anos do Laboratório de Pesquisa em Enfermagem na Saúde da Mulher e Recém-Nascido (GRUPESMUR),criado em setembro de 2005 e  vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC. A organização foi das ProfessorasEnfermeira Dra. Evanguelia Kotzias Atherino dos Santos e Conselheira do Coren/SC, e da Enfermeira Obstétrica  Dra.Marli Stein Backes, líder e vice-líder do grupo respectivamente.

Numa entrevista exclusiva ao Coren/SC, Tina detalhou um pouco mais sobre sua atuação há cerca de  25 anos no Centro Médico da Universidade de Pittsburgh e como a população avalia o trabalho da Enfermagem Obstétrica nos Estados Unidos. Esta entrevista se inseretambém  no contexto da  campanha de valorização da Enfermagem Obstétrica, deflagrada este ano pelo COREN/SC, em consonância com  o NursingNow.

Quais as exigências de formação para atuar como enfermeira obstétrica nos EUA?

A maioria destas profissionais iniciaram como Enfermeiras, ao lado de médicos, depois elas adicionam alguns anos de estudo para tornarem-se Enfermeiras Obstétricas. Geralmente são dois anos de especialização como no Brasil, mas existem vários programas, como os que permitem validar disciplinas de outros cursos, fazer Enfermagem e depois Enfermagem Obstétrica, totalizando assim quatro anos.

Como é o campo de trabalho?

A maioria trabalha em hospitais, são poucas que atendem em casa, pois estas são as chamadas parteiras que não possuem formação em Enfermagem e atendem a domicílio. Já as cerca de 12 mil Enfermeiras Obstétricas que atuam no país estão aptas a usar os medicamentos, os recursos e a segurança dos cuidados essenciais dentro dos hospitais para atendimento do pré-natal, parto e pós-parto.

Quais as conquistas destas profissionais?

Temos muita autonomia e estamos sempre melhorando nossos conhecimentos para atender as mulheres e com isso temos apoio dos médicos.  No hospital que trabalho temos um grupo de 10 enfermeiras obstétricas, separado do grupo de médicos, mas temos relação colaborativa e baseada em legislação. Ou seja, temos um documento que assinamos para formalizar as atribuições e atividades de cada um. Os médicos estão ali se for preciso, em casos mais graves ou de necessidade de cirurgia.

Mas existem desafios ainda?

Sim, existe também lugares que há dificuldade nas relações com os médicos. E muitas vezes a própria população estranha quando chega num atendimento e só há a Enfermeira Obstétrica.  Mas depois percebem as habilidades da profissional e o tempo que dispomos para acompanhar todo o processo do parto.

As atribuições incluem atendimento em casos que exigem mais atenção?

Podemos atender as mulheres com hipertensão, diabetes, ou mesmo bebê com anomalias. Na sala de parto do hospital temos apenas duas enfermeiras, a enfermeira obstétrica e a família. No caso de ocorrer alguma perfuração, ou problema com o bebê, chamamos o pediatra e ele vem em um minuto. Ou se a mãe precisa alguma ajuda mais específica, chamamos o médico, mas são poucos os casos.

Então o relacionamento é tranquilo entre os integrantes da equipe?

No nosso hospital temos uma trajetória longa com os médicos e demais integrantes, todos se conhecem, sabem que podemos confiar uns nos outros.

E a legislação é igual em todo o país?

A maioria dos estados tem a mesma legislação. Mas cada um trabalha as atribuições no seu estado, na sua instituição. As enfermeiras obstétricas podem assinar a internação e os casos de óbito. Em relação às Parteiras, chamadas Obstetrizes que não tem formação em Enfermagem, apenas seis estados reconhecem.  Temos 50 estados e o restante exige Enfermagem Obstétrica para acompanhar os partos.  Em Pitsburgh eu ajudo outros dois grupos de enfermeiras obstétricas e encontramos situações diferentes. São quatro médicos e dois não trabalham de forma colaborativa. Por isso digo que a realidade é mais local, hospital por hospital.

Na sua opinião, a população valoriza a área?

Os que conhecem gostam muito, só que a população não escolhe porque ainda acha que precisa o médico. Por isso ainda fazemos menos de 10% dos partos nos Estados Unidos, apesar de um crescimento significativo, pois passamos de menos de 200 partos de cada 10 mil em 2002 e passamos para 800 de cada 10 mil em 2018. Hoje em dia, quando descrevo meu trabalho, as pessoas acham que só atendo em casa, então esclareço que posso usar medicamentos e a estrutura do hospital supervisionando todos os procedimentos do parto. Falta difundir mais estas habilidades e prerrogativas, pois não temos competição com os médicos.

Os atendimentos de pré-Natal ocorrem no hospital e em outros lugares?

As enfermeiras obstétricas ficam no hospital, temos cinco consultórios, e os partos ocorrem no hospital. Mas o Pré-Natal fazemos nas cidades próximas, realizando encontros em várias partes e assim facilitar a vida das mulheres. Ajudamos também em clínicas para pessoas que não tem recursos, e muitas vezes não sabem que vão ter atendimento com enfermeira obstétrica e estranham. No entanto, depois que ouvem as explicações, 99% dos casos ficam ali para realizar todos os procedimentos.

Por que a população deve valorizar a Enfermagem Obstétrica?

As mulheres devem entender que temos o conhecimento, a experiência e possuímos formação, ou seja, os recursos para atendê-las. Mas temos mais que isso, temos tempo para explicar, para falar, para acompanhar com mais proximidade e detalhamento todos os procedimentos antes, durante e após o parto.